segunda-feira, 2 de setembro de 2013

PREMONIÇÕES VOCÊ ACREDITA - PARTE 4

                              SALVO POR UM SONHO      
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Não é por acaso que o naufrágio do Titanic, uma das mais célebres tragédias do século 20, seja acompanhado de diversas histórias de pessoas que pressentiram a viagem sem volta do transatlântico. O empresário inglês J. Connon Middleton havia reservado passagens para ele e a família. Dez dias antes do embarque, ele sonhou com um navio de quilha para o ar, rodeado por passageiros e bagagem boiando. Para não assustar os parentes, ficou quieto. Mas o sonho se repetiu na noite seguinte. Middleton resolveu adiar a passagem, pois a viagem não era urgente, e contou tudo para três amigos. Na fatídica noite de 14 de abril de 1912, o Titanic bateu num iceberg e afundou no Atlântico Norte, matando 1500 pessoas, entre passageiros e tripulantes. Middleton relatou o caso para a Sociedade de Parapsicologia de Londres, acompanhado dos passaportes, das reservas e de uma carta com o testemunho assinado dos amigos. Dias depois, novos registros foram aparecendo. O marinheiro Colin MacDonald, por exemplo, recusou a função de subchefe de máquinas do Titanic por causa de um presságio de desastre.

Em alguns casos, foi pura superstição, como os milionários J. P. Morgan e George W. Vanderbilt, que admitiram ter cancelado as passagens por medo de estar na viagem inaugural de um navio. Em outros, faltavam detalhes que pudessem relacionar os sonhos e as precognições ao acidente do Titanic. Se o problema são os detalhes, a história do escritor inglês Morgan Robertson é de arrepiar. Em 1898, ele publicou um romance sobre o naufrágio de um grande navio, que ocorria num mês de abril, após chocar-se com um iceberg no norte do Atlântico. Metade dos passageiros morria por falta de botes salva-vidas, tal qual ocorreria com o Titanic. Mera coincidência ou terrível premonição, o livro chamava-se Futility or the Wreck of the Titan (“Futilidade ou o Naufrágio de Titan”, sem versão para o português). Robertson não viajou no Titanic, logo, não virou personagem da própria ficção.

Já o jornalista inglês W. T. Stead não teve a mesma sorte. Até 1912, ele tinha publicado várias histórias, entre as quais o conto “O Fantasma Branco do Desastre”, a respeito de navios que afundavam no oceano e os passageiros morriam à deriva. Stead se interessava pelo sobrenatural e visitou alguns médiuns, em busca de novas idéias fantásticas para os seus textos. Nesses contatos, três deles teriam avisado sobre o acidente do Titanic, com premonições como “será perigoso viajar no mês de abril de 1912” ou “você estará no meio de uma catástrofe na água”. Mesmo assim, Stead embarcou naquela primeira e última travessia do Titanic. E, como costumava narrar em seus livros, foi um dos que morreram no mar porque não havia botes suficientes para todos. Embora fossem escritores de ficção, Robertson e Stead teriam visto o futuro? Ou foram vítimas casuais da própria imaginação literária?

Os céticos citam um dado comum a esses acontecimentos: todos se referem a preocupações de suas épocas. No começo do século 20, quando os navios dominavam o transporte de pessoas de um continente para outro, preocupar-se com naufrágios era tão comum quanto temer um atentado aéreo nos dias de hoje, quando os turistas preferem o avião. A pergunta racional seria: por que ouvimos poucas premonições de tragédias marítimas no século 21 em comparação às visões de Boeings explodindo no ar? Nesse caso, Robertson e Stead teriam apenas denunciado um fato daqueles anos: as empresas marítimas descuidavam da segurança. Em 1998, a inteligência americana alertou a Casa Branca para a possibilidade de ataques terroristas, com o uso de aviões, dentro dos Estados Unidos. O relatório estava certo, como comprovou o atentado de 11 de setembro, e não foi feito por uma equipe de precognitivos. No site Dicionário do Cético (brazil.skepdic.com), o americano Robert Todd Carroll cita a lei dos números muito grandes. Essa lei diz que, numa amostra suficientemente grande, muitas coisas estranhas demais para parecerem coincidências são prováveis e nada estranhas. “Digamos que a possibilidade de uma pessoa sonhar com a queda de um avião, e um cair no dia seguinte, seja de 1 para 1 milhão. Com 6 bilhões de pessoas tendo em média 250 temas de sonho por noite, devem existir 1,5 milhão de pessoas por dia tendo sonhos que parecem clarividência”, escreve Carroll. A análise cética utiliza também a regra do efeito Forer – quanto mais vagos forem o sonho, a premonição ou a predição, mais exatos eles parecerão.

Na parapsicologia, a precognição só é reconhecida se a pessoa não tiver informações no presente que permitam a dedução do futuro. Em 1915, Edward Bowen, um bem-sucedido vendedor de calçados de Boston, nos Estados Unidos, estava com bilhete comprado para embarcar no luxuoso transatlântico britânico Lusitania. Na véspera da viagem, ele sentiu uma súbita preocupação e resolveu ficar. “Um sentimento cresceu dentro de mim de que algo ia acontecer ao Lusitania. Conversei seriamente com minha esposa, e decidimos cancelar nossa passagem, apesar de eu ter um negócio importante marcado em Londres”, contou a amigos, na ocasião. Um dia antes da partida, os tripulantes do Lusitania interpretaram como mau agouro a fuga do mascote do navio, um pequeno gato preto. Em 7 de maio de 1915, um torpedo alemão afundou o Lusitania. Naquele ano, Grã-Bretanha e Alemanha combatiam em lados opostos na Primeira Guerra Mundial. Os jornais dos Estados Unidos publicavam anúncios da embaixada alemã alertando que os viajantes deveriam assumir os riscos de atravessar o Atlântico. O clima era hostil, mas ninguém imaginava ataques a navios de passageiros. A Marinha alemã pensou diferente, matando 1200 pessoas que estavam a bordo do Lusitania. Bowen teve uma premonição verdadeira ou estava influenciado pelas notícias vindas do front? O comerciante estaria impressionado com os perigos de viajar para a Europa durante a guerra ou pressentiu a tempo a tragédia? Para céticos ou não, a única certeza é que Bowen e a mulher sobreviveram.

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