Apresentação
Em meu tempo de garoto, aprendi a ter medo de navalha. “Cuidado, ele é capoeirista...”
De tiro, não me lembro ouvir falar, a não ser num baile de carnaval, no Clube do Flamengo,
que me ficou na memória por conta de um sujeito ciumento que se deu ao trabalho de ir em
casa, pegar a arma e voltar para acabar com a festa. Em meu ambiente, arma de fogo não era
problema. Briga se resolvia na mão.
Hoje, quarenta anos depois, capoeira ganhou respeito, navalha virou antiguidade e o
que se vê, por todo lado, é o uso descontrolado da arma de fogo. São tantas e tão profundas
as causas da violência, que dá desespero pensar. Em meio a elas, contudo, na dureza do
cotidiano, sabemos que a arma de fogo desequilibra. Transforma o banal em fatal. Gera
poderes paralelos. Generaliza a vizinhança da morte.
Controlar a arma e o seu uso tornou-se, pois, tarefa maior. Votou-se o Estatuto do
Desarmamento. Fez-se a campanha de entrega voluntária de armas. Mobiliza-se agora um
Referendo para a proibição da venda de armas para civis no Brasil. São ações de grande
porte, com um único objetivo: o controle da arma de fogo. Lembram grandes campanhas
preventivas do passado, como as de combate aos vetores transmissores de doenças tropicais.
Violência, como a malária, virou epidemia, sintoma de uma patologia que escapa aos controles
coletivos. Mosquito não é causa de doença, assim como arma não é causa de violência, mas
ambos são responsáveis pela multiplicação e o agravamento do mal.
A questão é polêmica. Arma virou problema apenas nesta geração e a adoção de uma
estratégia preventiva para a violência, típica do que se faz na saúde pública, também é
novidade. Há muitas perguntas no ar. Este livro examina cada uma delas com um rigor e uma
riqueza de informações admiráveis. É a fonte que nos faltava.
Rubem César Fernandes
Diretor Executivo do Viva Rio
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