terça-feira, 30 de julho de 2013

INTENÇÃO E GESTO



Não sei se seremos o país mais injusto do mundo mas provavelmente ninguém há de disputar-nos o primeiro lugar no “ranking” internacional da hipocrisia. Como explicar de outro modo que a unanimidade nacional em considerar a pobreza e a desigualdade os problemas prioritários do Brasil não produza qualquer resultado em termos práticos?

Foi essa a pergunta que me ficou sem resposta ao ler trabalho do Professor John Toye, ex-diretor do Instituto de Desenvolvimento da Universidade de Sussex, sobre a necessidade de “nacionalizar” a agenda da luta contra a pobreza. O Professor Toye, um dos principais economistas do desenvolvimento no Reino Unido, e até recentemente diretor da divisão de estratégias de desenvolvimento da UNCTAD, indica como é no fundo limitado, no esforço de erradicar a pobreza, o poder de organizações internacionais como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Banco Mundial.

A razão é simples: historicamente, em todos os países ocidentais onde se reduziu substancialmente o número de pobres, isso foi o produto de decisões das elites locais. Principiando pela primeira Lei dos Pobres na Inglaterra de 1640 e examinando a seguir o que se fez naquele país e no continente europeu após o cataclismo social do início da Revolução Industrial, ele mostra que o padrão é sempre o mesmo. Chega o momento em que as disparidades se tornam tão extremas, a abjeção humana é de tal ordem, que as classes dirigentes descobrem a unidade de destino que as prende aos setores populares.

Não tanto por altruísmo mas por medo: das sublevações violentas e da instabilidade política como as que alimentaram na França a era das barricadas retratada por Victor Hugo em “Os Miseráveis”, culminando com os 20 mil fuzilamentos da Comuna de Paris. Temor das epidemias e das pestes, que no passado brotavam dos sórdidos quarteirões miseráveis mas não poupavam ricos ou aristocratas. Terror de ser assassinado por criminosos embrutecidos pela miséria como nas apavorantes crônicas anônimas sobre bandidos e piratas que inspiraram óperas e romances de aventura de 1800.

É nesse ponto que os dirigentes resolvem mobilizar as engrenagens do governo e mediante leis, políticas públicas, mudanças no sistema de impostos, forçam algum grau de redistribuição e eliminam as formas mais chocantes de pobreza e desigualdade.

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