quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sem bandeira, nova geração universitária de ativistas gays promove integração


Com ajuda da internet e das redes sociais, grupo de jovens da PUC, USP, Cásper Líbero, ESPM e Mackenzie uniram forças para derrubar preconceitos e promover atividades conjuntas como festas, reuniões e o trote glitter, que dá boas-vindas aos alunos gays



Grupo de jovens das faculdade PUC, USP, Cásper Líbero, ESPM e Mackenzie que se reuniram para promover a diversidade. Foto: Edu Cesar
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A analista de conteúdo Catharina Navarro , 23, é formada em Relações Internacionais pela PUC SP (Pontifícia Universidade Católica). Ainda durante o curso, em novembro de 2011, deu início ao grupoPUC Purpurina , inicialmente restrito ao Facebook, e que hoje promove eventos e festas disputadas. “Quando caminhava pela faculdade eu via muitos gays, mas não tinha ideia de quem eles eram. Criei então o grupo e coloquei 11 amigos. No dia seguinte tínhamos 150 membros, gente querendo se conhecer”, conta Catharina, criadora do grupo que hoje conta com 450 participantes.
Para participar do PUC Purpurina é preciso ser aluno ou ter alguma relação com a universidade, e solicitar uma autorização para Catharina. “Temos gays e lésbicas, mas também travestis, transexuais e até heteros. A ideia do Purpurina é integrar, quebrar preconceitos, e temos conseguido”, revela.
A boa aceitação do grupo se refletiu no dia a dia da universidade. Festas, churrascos e reuniões em bares se tornaram frequentes, assim como o trote glitter, que dá boas vindas aos alunos gays, além da inserção de palestras sobre gênero na grade curricular. Com o tempo, héteros passaram a se habituar com as atividades e participar dos eventos, diluindo quaisquer resquícios de homofobia.
Conservadorismo versus Intolerância

Enquanto Catharina buscava a integração e acabou por combater o preconceito, alunos da USP (Universidade de São Paulo) criavam o grupo Seven USP , para lidar com a homofobia na instituição. A iniciativa dos alunos da Escola Politécnica (sede do curso de Engenharia) foi também um sucesso e conta hoje com mais de 2.000 membros.
“O Seven Usp surgiu na Politécnica, que é um ambiente muito conservador, então os gays queriam reconhecer os outros gays, para poder se relacionar. Com a rápida adesão, acabou virando um grupo geral, de convivência, que tem também um viés politico”, diz o servidor público Danilo Devanso , 21, atual administrador do grupo.
O estudante conta que, se o tema é mais polêmico, acaba sendo abordado por outro grupo, o uXXXp.. Mais liberal e menor, responde também pela organização das festas e confraternizações.
Menos carão e mais carinho

O sucesso dos eventos sociais chamou atenção do analista de RH Jorge Ono, 25, e do estudante de Direito Leonardo Krausche , 28, responsáveis em 2010 pela criação do grupo TIA Colorido , que conta atualmente com cerca de 600 alunos da Universidade Presbiteriana Mackenzie, todos gays.
Nossa ideia era criar uma festa sem carão e com muita jogação, pegação e bebida barada (Jorge Ono)

“O Tia Colorido é bastante intimista, formado exclusivamente por gays e mackenzistas. A gente fala sobre universo pop, relações familiares, flertes, festas”, enumera Leonardo. Intimista, mas não excludente, o TIA Colorido teve vontade de reunir todos os grupos. Jorge então idealizou a festa KiKi, cuja primeira edição aconteceu em fevereiro deste ano, e chamou Catharina e Danilo para organizar a integração. “Nossa ideia era criar uma festa sem carão e com muita jogação, pegação e bebida barada”, brinca ele.
Na gíria LGBT, "carão" são atitudes esnobes que as pessoas adotam principalmente em eventos e festas, mas são também exatamente o oposto do que buscam estes jovens. “Menos carão e mais carinho” é o lema também de Catharina. “Os grupos têm uma quantidade muito grande de posts, são muitos encontros, já juntei muito casal. A festa ajudou ainda mais essa integração”, conta ela.        sEdu Cear
Os responsáveis pela festa Kiki: Danilo Devanso (USP), Catharina Navarro (PUC), Jorge Ono e Leonardo Krausche (Mackenzie)

E segue ajudando, com uma forcinha de Catharina. Para divulgar a festa e aumentar a lista de convidados, ela chamou representantes de grupos da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) e da Faculdade Casper Líbero para tocar.
Cangay e Armário

O publicitário Arthur Bolguese , 22, que faz parte do ESPM Magia , conta que o grupo se formou no final de 2011. “A ideia era conhecer os gays da faculdade. Temos desde gente buscando ajuda sobre como contar para a família até conteúdo politico. Hoje somos 161 pessoas, mas era para ter mais. Muita gente saiu com medo da exposição ou porque não curtiu a proposta”, analisa.
O grupo que reúne alunos da faculdade Casper Libero foi criado no fim de 2011 e conta com cerca de 180 membros. Batizado de Homo Caspiem , parece ser o mais orgulhoso de todos, com direito a bandeira e tudo.
“A ideia era falar sobre o que acontece no universo gay, mas também temos relatos de pessoas que já passaram por muitas situações parecidas, então existe uma ajuda mútua”, explica um dos fundadores, o publicitário Guilherme Albuquerque , 22. O grupo tem um administrador de cada curso.
A designer Fernanda Domingos , 20, conta que se encontrou no grupo que ajudou a criar. “Meus melhores amigos eu conheci no grupo, rola muita interação. Sempre que dá estendemos a cangay (canga estampada com a bandeira do arco-íris) nos eventos para juntar todo mundo, e também queremos fazer mais eventos e atividades”, planeja.

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